Bem, pessoal, sofrendo uma mea culpa de minha omissão em termos de
participação política na USP - e também de certa melancolia com o fim
do doutorado, já próximo - fui ao debate que estava programado como
parte do V Congresso. Para quem não sabe, ele foi melado porque os
funcionários exigiram, na segunda, a liberação do ponto de todos os
16.000 funcionários, reivindicação não atendida pela reitoria e à qual
seguiu-se o boicote da categoria, secundada pela dos alunos.
Os delegados dos professores reuniram-se informalmente na sala Caio
Prado, da História, e fizeram o debate sobre a estrutura de poder na
universade, que me parecia o mais importante de todos. O debate teve um
caráter de Fórum, pois havia alunos de graduação e pós, e alguns
funcionários por lá.
Estavam disponíveis as teses originalmente preparadas para o V
Congresso (que seria uma preparação para a Estatuinte) e uma publicação
unificada das entidades neste Maio/08, resgatando propostas feitas para
o III Congresso, de 1987, acerca do futuro Estatuto da USP (que o
governo melou em 1988, gerando essa estrutura de poder que conhecemos).
Os professores tenderam a referendar os princípios mais gerais desse
documento e divergiram sobre alguns pontos, como avaliação
institucional, considerado superado. Os itens 8 a 11 também foram
objetos de crítica, mas não se amadureceu a discussão. Não encontrei o
documento no site, mas vale uma visita: http://www.adusp.org.br.
Todos os representantes docentes e discentes relataram absurdos que
ocorrem nas reuniões de colegiados em geral, com destaque para o
caráter "secreto" dessas reuniões, propondo que se compartilhem os
relatos da situação nas várias unidades. Talvez, essa lista também
pudesse abrir alguns relatos para a ADUSP, para que se forme uma noção
mais completa da política nas unidades. Levar esta discussão para a APG
pode ser interessante, né? Em muitos casos, não se tem feito nem mesmo
a circulação prévia das pautas.
Exemplo de descalabro: uma reunião de ontem na Faculdade de Educação,
onde se propôs voto secreto em favor de uma circular da CRL, apoiando
a "desobstrução imediata" (ou desocupação forçada) dos alunos que
faziam piquete frente à Reitoria...
Criticou-se a fragmentação em colegiados e comissões, e, em alguns
casos, até a autonomização das Comissões frente à Congregação, da
diretoria/Fundações-caça-níqueis frente às Congregações através dos
CTAs. Tudo com um cheiro bem tecnicista e me perdi um pouco no meio das
siglas. Há tempos atrás, algumas unidades até utilizaram painéis e voto
secreto naquele esquema que quase derrubou um vetusto senador da
república, felizmente já falecido.
Alguns professores sugeriram que, no documento de 1987, fosse incluída
também uma crítica à terceirização. Uma ou outra manifestação de
tristeza pela decadência do espírito democrático na universidade. Houve
uma crítica aos novos professores ingressantes, e aos pós-graduandos,
que se envolvem muito pouco nos debates políticos, sem maiores
diagnósticos.
Os alunos presentes queixaram-se do comportamento de certos
professores, autoritários e/ou sem didática, e da falta de colegiados
justos que se encarregassem de equalizar essas relações. Algumas
unidades (especialmente de Exatas) continuam tendo reprovações em massa
em certas disciplinas, numa seleção natural, ou evasão planejada, em
que apenas 10% dos calouros conseguem completar o curso.
Duas sugestões importantes: 1) a realização de Plenárias promovendo a
discussão anual sobre os rumos da universidade, com tempo e espaço no
cronograma, como meio de formação dos novos alunos e debate dos temas
mais importantes; 2) a de plebiscito sobre os novos regimentos de Pós e
Graduação. Houve divergências sobre estas idéias. Cobrou-se, ainda, que
a universidade abra maiores condições de participação das entidades no
site.
Houve, também, queixas sobre (a ausência?) de um plano de carreira para
os funcionários, cuja participação nas Congregações parece ter sido
atrelada a promoções etc. Com freqüência, premiando-os com a
distribuição de cargos de chefia.
PLENÁRIA UNIFICADA - Em seguida, discutiu-se o convite dos alunos para
uma plenária unificada amanhã, sexta-feira à tarde. Este ponto foi mais
delicado em termos políticos, pois todos se lamentaram pela não-
realização do V Congresso. Uma professora manifestou indignação pelo
boicote dos funcionários e sugeriu que a ADUSP não comparecesse à
reunião. Mas as outras manifestações sugeriram a presença da entidade,
sem que houvesse caráter deliberatório (pois foram eleitos delegados
apenas para o Congresso), e meramente ouvissem o que os outros
segmentos tinham a dizer.
O momento político é delicado, e penso que vai demorar um tanto para
que a confiança entre os segmentos seja recuperada já que o SINTUSP,
além de boicotar o Congresso (ninguém exigiu prévia liberação de ponto
nas negociações da ocupação em 2007), havia participado pouco da sua
organização. Afirmou-se que a autocracia também está nas entidades,
como na vida orgânica da USP (alguém lembrou que o IV Congresso foi
melado pela disputa política no DCE; não sei se foi mesmo assim). Só
haveria a possibilidade de uma estatuinte se houvesse a possibilidade
de que todos os segmentos se unissem. Neste momento delicado, avaliou-
se que ainda não há condição de fazer um plano de lutas.
As últimas falas que ouvi - pois saí antes de a reunião terminar -
caminhavam no sentido de exorcizar as mágoas e reequilibrar o jogo
político, procurando de algum modo voltar a combinar as contribuições
de cada segmento, tal como ocorreu no ano passado. Os delegados dos
professores pretendem publicizar as discussões ocorridas nestes últimos
dias; de orelhada, pareceram-me interessantes. Vale conferir no site
deles, né?
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De minha parte, sinto que nós, pós-graduandos, que tocamos nossos
projetos individuais de pesquisa, não estamos muito integrados na vida
orgânica da universidade e nos preocupamos mais com nosso desemprego, o
aumento do Lattes e os prazos da CAPES. Faço essa auto-crítica.
Enquanto os RDs se esfalfam, acumulando representações, nós nos
permitimos ser conduzidos como burrinhos pelas políticas hegemônicas,
criticando-as no varejo e não no atacado, ficando no discurso e não na
ação. Acho que a experiência desta lista é interessante, mostrando o
esforço do Joari e outros para que o segmento fique um pouco mais
politizado. Tá certo que somos um pouco velhos para fazer parte do
Movimento Estudantil e um pouco novos para participar do docente, mas
em algum lugar precisamos ficar, né?
Beijos a todos
Gi
Bem, pessoal, sofrendo uma mea culpa de minha omissão em termos de